As consequências dos pais superprotetores

Texto de Bárbara Stock – socióloga, empreendedora, cocriadora e apresentadora do Podcast Café Com Leite.

Um filme infantil que aborda os perigos da superproteção é “Procurando Nemo” (Finding Nemo), da Pixar. A história gira em torno de Marlin, um peixe-palhaço superprotetor que, após a trágica perda de sua esposa e da maioria de seus filhos, cria seu único filho sobrevivente, Nemo, com extremo cuidado e medo dos perigos do oceano. A superproteção de Marlin leva a conflitos com Nemo, que deseja explorar o mundo e provar sua independência. Quando Nemo é capturado por mergulhadores e levado a um aquário, Marlin precisa enfrentar seus medos e deixar seu filho viver suas próprias experiências. O filme destaca a importância de equilibrar proteção com a liberdade para que as crianças desenvolvam suas habilidades e confiança.

Todo mundo sabe que excesso nunca é bom, e isso também vale para a superproteção dos filhos. Muitos pais superprotetores querem garantir que seus pequenos não sofram de jeito nenhum, seja fisicamente ou emocionalmente. Eles tentam proteger as crianças de tudo que pode causar tristeza, dor, rejeição ou fracasso. Mas, na tentativa de evitar qualquer sofrimento, acabam criando uma “bolha” em volta dos filhos, com muitas regras e controle. O problema é que, quando essas crianças crescem, podem ter dificuldades para lidar com o mundo real.

Superprotegidas, essas crianças acabam não desenvolvendo as habilidades necessárias para enfrentar os desafios da vida.

Reconhecer que se está sendo superprotetor não é fácil, mas há sinais que podem ajudar a identificar esse comportamento. Um desses sinais é quando os pais se misturam tanto com os sentimentos dos filhos que acabam fazendo tudo por eles para evitar qualquer sofrimento. No Blog do site https://podcastcafecomleite.com.br publicamos um material sobre “Pais Helicópteros”, que trata desse tema.

Outro ponto é quando os pais têm um foco excessivo nos filhos, muitas vezes por terem problemas pessoais, como uma rede de apoio pequena, dificuldades no casamento ou até transtornos mentais.

Consequências da Superproteção

Ser muito protetor pode fazer com que os pais vejam perigos onde não existem, vivendo sempre alarmados e com medo. É claro que as crianças precisam de cuidados e atenção, mas também é essencial que aprendam a resolver as coisas por conta própria, desenvolvendo habilidades importantes para a vida adulta.

A superproteção passa a mensagem de que as crianças não são capazes de lidar com a vida sozinhas. Entre os principais perigos da superproteção, estão:

  1. Habilidades sociais e emocionais limitadas: Elas podem ter dificuldade em lidar com situações do dia a dia.
  2. Menos oportunidades de aprendizado: Crianças superprotegidas têm menos chances de aprender com suas próprias experiências.
  3. Dependência de adultos: Elas evitam se arriscar, resolver problemas ou tomar decisões por conta própria.
  4. Necessidade constante de aprovação: Sempre buscando a aprovação dos outros.
  5. Dificuldade com emoções: Elas podem ter problemas para lidar com sentimentos como raiva, frustração e tristeza.
  6. Pouca autonomia: Isso pode levar a baixa autoestima e afetar negativamente a criatividade e o autocontrole.
  7. Aumento da ansiedade: Medo de novas situações pode levar a transtornos de ansiedade e depressão na vida adulta.
  8. Baixa Resiliência: Crianças superprotegidas podem ter dificuldade em lidar com adversidades e desafios, tornando-se menos capazes de se recuperar de situações estressantes ou traumáticas.
  9. Falta de Motivação e Iniciativa: Sem a chance de tomar suas próprias decisões e enfrentar desafios, essas crianças podem se tornar passivas e dependentes, com pouca motivação para buscar novas experiências ou se esforçar para alcançar objetivos.
  10. Problemas de Relacionamento: A superproteção pode interferir na capacidade da criança de formar e manter relacionamentos saudáveis. Elas podem ter dificuldade em confiar nos outros, comunicar suas necessidades e limites, ou lidar com conflitos de forma eficaz.

Como Evitar a Superproteção?

Treinamento e orientação parental são ótimos para evitar a superproteção e melhorar atitudes quando o comportamento já está presente. Filipe Colombini e sua equipe ajudam muitos pais a equilibrar momentos de suporte com oportunidades para que os filhos desenvolvam habilidades e autonomia, sempre respeitando o tempo de cada criança.

Aqui estão mais algumas dicas práticas para evitar a superproteção:

1. Estabeleça Regras e Limites Claros: As crianças precisam de diretrizes para se sentirem seguras, mas essas regras devem permitir que elas explorem e aprendam dentro de limites razoáveis. Explique as razões por trás das regras para que elas entendam a importância delas.

2. Promova a Resolução de Problemas: Incentive a criança a pensar em soluções para os desafios que encontra. Pergunte “O que você acha que podemos fazer sobre isso?” em vez de fornecer imediatamente a resposta ou solução.

3. Incentive a Participação em Atividades em Grupo: Encoraje seu filho a participar de esportes, clubes ou outras atividades em grupo. Isso ajuda a desenvolver habilidades sociais, a aprender a trabalhar em equipe e a lidar com conflitos de maneira saudável.

4. Deixe a criança errar e aprender com os erros: Permita que a criança cometa erros e enfrente as consequências de suas ações. Isso ajuda a desenvolver resiliência e habilidades de resolução de problemas.

5. Dê liberdade para a criança brincar e explorar, supervisionando sem exageros: Permita que a criança tenha a oportunidade de brincar e explorar o ambiente ao seu redor, garantindo supervisão adequada, mas sem controlar todas as suas ações.

6. Ensine a Gerenciar Frustrações: Mostre às crianças como lidar com frustrações e decepções de forma construtiva. Ensine técnicas de respiração, fale sobre a importância da paciência e mostre como você mesmo lida com situações frustrantes.

7. Apoie a Independência Gradual: Dê responsabilidades apropriadas para a idade da criança e aumente gradualmente a complexidade dessas responsabilidades à medida que ela cresce. Isso pode incluir tarefas domésticas, como arrumar a cama, ou decisões sobre o que vestir.

8. Ofereça Feedback Positivo: Reconheça e elogie os esforços da criança, mesmo que os resultados não sejam perfeitos. O foco deve estar no esforço e na aprendizagem, não apenas no resultado final.

9. Modelo de Comportamento: Seja um exemplo de como lidar com desafios e adversidades. As crianças aprendem observando o comportamento dos pais, então demonstre resiliência, coragem e independência em sua própria vida.

10. Facilite a Convivência com Outras Crianças: Permita que seu filho tenha tempo para brincar e interagir com outras crianças sem intervenção constante. Isso ajuda a desenvolver habilidades sociais e a resolver conflitos de forma independente.

11. Promova a Educação Emocional: Ensine seu filho a reconhecer e expressar suas emoções de maneira saudável. Fale sobre diferentes sentimentos e mostre que todas as emoções são válidas e fazem parte da vida.

12. Seja Paciente e Disponível: Dê espaço para que a criança tente resolver seus próprios problemas, mas esteja disponível para oferecer suporte e orientação quando necessário, sem tomar as rédeas da situação.Não fazer pela criança o que ela pode fazer sozinha.

Em resumo, assim como Marlin aprendeu em “Procurando Nemo”, é essencial encontrar um equilíbrio entre proteção e liberdade. Proteger é importante, mas sem exageros, para que as crianças cresçam capazes de enfrentar os desafios da vida com confiança e autonomia. Ao permitir que nossos filhos explorem o mundo e aprendam com suas próprias experiências, estamos ajudando a construir adultos resilientes e independentes, prontos para voar com suas próprias asas.

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